Entenda por que o inverno deste ano mais parece com a primavera

Você já reparou que o inverno este ano está mais quente do que o do ano passado? Em pleno mês de agosto, houve dias em que a gente saiu de casa só de casaquinho, deixando o cachecol no armário. E essa sensação de calor fora de época não foi sentida só pelas pessoas. Os períodos longos de temperaturas mais altas, intercalados com poucos dias frios, teve impacto no meio ambiente e na agricultura.

Por conta da antecipação de alguns fenômenos climáticos, as folhas secas dão lugares às flores, que tomam conta da paisagem mesmo antes da chegada da primavera. Além disso, quase todos os peixes de um açude em Santiago morreram por conta da temperatura alta da água. E a nebulosidade intensa afetou o crescimento da pastagem, fundamental para a engorda de bois.

Conforme especialistas, nos últimos cinco anos, o sul do Brasil apresenta invernos mais irregulares. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia apontam que, desde 2010, a região não tem um inverno tão rigoroso. Apesar de a sensação deste ano ser de mais calor, foram os meses de julho e agosto de 2012 que apresentaram as mais altas temperaturas da estação.

2012 foi ano de extremos

Desde o início do inverno, em 21 de junho, a temperatura mais baixa em Santa Maria foi registrada em 14 de agosto (0,1ºC). As temperaturas mais elevadas foram registradas nos dias 5 de julho (29,8ºC) e 3 de agosto (30,8ºC). O mês de julho tem a média histórica mínima de 9,3ºC e máxima de 20,3ºC. Em agosto a média histórica mínima é de 9,5ºC e a máxima é de 22,5ºC. Nos últimos cinco anos, o que apresentou as médias mais baixa e mais alta foi 2012, com 6,3°C e 26,5°C (veja quadro abaixo).


Calor é resultado de combinação de fenômenos

Conforme especialistas, não há apenas um fenômeno climático que explique as anomalias atmosféricas observadas neste inverno. Existem fenômenos diversos, tanto de origem tropical (o El Niño), como de origem extratropical (como a Oscilação Antártica), que, juntos, afetam o clima no Rio Grande do Sul.

Expedito Rebelo, chefe da sessão de meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), afirma que, desde 2012 (quando foi registrado o inverno mais quente em Santa Maria nos últimos cinco anos), há uma previsão de ondas intensas de calor nos invernos da região sul. Isso ocorre porque as águas dos oceanos Pacífico e Atlântico elevaram suas temperaturas em cerca de 2ºC, uma anomalia considerada significativa.

_ As costas das regiões Sul e Sudeste apresentaram pontos mais quentes do que o normal e isso ocasiona invernos mais irregulares. Por isso, as massas de ar vindas dos oceanos são mais fortes e permanecem mais tempo no continente _ explica Rebelo.

Essas oscilações de temperatura acabam gerando forte impacto nas chuvas, frentes frias e ciclones extratropicais. É o que garante a meteorologista Nathalie Tissot Boiaski, pesquisadora do Grupo de Pesquisas Climáticas (GPC) da UFSM. De acordo com ela, a precipitação ficou acima do normal nos três últimos meses em boa parte do Estado.

_ Com as chuvas acima do normal, o resfriamento noturno diminui, e a temperatura mínima tende a ficar mais alta. Além disso, a pressão atmosférica ao nível do mar esteve acima do normal no Atlântico Sul, contribuindo para a ocorrência de ventos Norte, tornando o ar ainda mais quente aqui em Santa Maria _ comenta Nathalie.

Água quente e com mais algas matou os peixes

A temperatura elevada da água pode explicar a mortandade de pelo menos 300 quilos de peixes em uma propriedade que fica na localidade de Vila Brancada zona rural de Santiago. De acordo com o dono da propriedade, Joceli Pivotto, os peixes começaram a morrer na semana passada. Pivotto possui mais dois açudes de piscicultura, mas, por enquanto, eles não apresentaram o problema.

Dairton Ramos Lewandow"